segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Pessoas Incomparáveis



Hoje farias 66 anos. Tiveste uma vida curta e nada fácil. Mas como disse Fernando Pessoa “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

Tu foste, e ainda és, uma pessoa incomparável. Daquelas que tocou o coração das pessoas que tiveram o privilégio de passar pela tua vida. Há poucas pessoas de coração enorme, maior do que a vida. O teu era gigante, sempre a transbordar de amor.

Eu tive o privilégio de te ter como mãe. Um curto espaço de tempo, mas com uma sementeira tão grande que ainda hoje colho os frutos de tudo o que me ensinaste. Muito do que sou devo-o a ti. E sou muito grata por te ter tido.



quarta-feira, 11 de julho de 2018

Amanhã fico triste



Por vezes somos apanhados pelas tempestades da vida. Somos sacudidos. Somos abanados. Ferimos-nos. E há feridas que cicatrizam outras ficam uma eterna chaga que se recusa a curar.

Para essas somos obrigados a desenvolver cuidados paliativos diários. Aceitar que não vai passar e que o melhor é aprendermos a viver com a dor. E acreditem conseguimos faze-lo. Podemos sempre ir mais além, somos sempre um pouco mais fortes do que sabíamos. Mesmo nos dias em que agradecíamos se a providência divina acabasse com tudo e nos desse uma trégua. E até naqueles em que pensamos que se isso não acontecer podemos nós faze-lo, mas por um qualquer motivo nos vamos agarrando à vida.

Há dias difíceis. Dias cinzentos. Dias que o cansaço parece dominar a vida. Há dias em que andar para a frente requer um esforço hercúleo.

Há dias em que precisamos conversar connosco próprios e lembrar o quanto já superamos, o quanto somos fortes, o quanto merecemos dias de sol. Aprende-se a cuidar de nós, a olhar-nos com um pouco de carinho.

E não adianta esperar que que as pessoas que nos rodeiam façam esse percurso. Há coisas que são só nossas. E muitas vezes nem se apercebem da dimensão do abismo em que se vive, nem de pormenores que são verdadeiras tacadas nas feridas.

O percurso é nosso. Esse caminho, só nós podemos trilhar. O esforço depende apenas de vontade própria. Cabe a nós diariamente deixar a tristeza para depois, por um sorriso nos lábios e abraçar a vida tal como ela é.

“Por vezes chove e faz vento. Acreditas, nessas alturas, que os alicerces que fundam a tua personalidade se abalam e tremem. Quando, na verdade, eles desabam totalmente. Não deves punir-te por isso. Simplesmente acreditar que tens que ir a uma loja comprar novos tijolos e mais cimento. E voltar a construir as bases da tua futura casa.” (Rodrigo Ferrão, escritor)

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Caminhos Cruzados



Tinha os olhos profundos, com pequenos relâmpagos a denunciar a ansiedade em que estava. Era mãe e sentia-se impotente para controlar as coisas que a vida lhe estava a trazer. Ouvi-a, só a podia ouvir. E enquanto ouvia revi-me na minha infância em consultas intermináveis com o Dr. Pedro Lisboa, que eu achava que era um monstro porque dizia que eu tinha que levar uma pica todos os dias! E levei mesmo, durante anos levei a tal pica que o monstro mandava.

A menina também precisava de uma pica todos os dias! Tinha nome de flor e um sorriso doce que não ofuscava o ar determinado em ser uma criança como todas as outras. Mostrou-me uma caneta que usava para esse efeito, um pequeno aparelho discreto, completamente diferente da caixa metálica e seringa de vidro que eu tive. Mostrou-me os seus registos médicos num apelo à minha confiança. E conquistou-a porque reconheci a determinação férrea de quem fará o que tiver que ser.

Não falei muito, nem com a mãe, nem com a flor... Não foi preciso, nem nunca lhes contei a minha história. Apenas estive presente. Apenas estive genuinamente interessada. Talvez seja a energia que emanamos, talvez seja apenas saber escutar, mas vi os relâmpagos do olhar esmorecerem, e apagarem-se.

Dizem que não encontramos ninguém na vida por acaso. Talvez seja mesmo verdade. Estas duas estranhas relembraram-me uma batalha que lutei e venci. E tenho a certeza que por isso mesmo lhes consegui levar um laivo de esperança e o de calor humano que precisavam naquela fase de vida.

Não nos conhecíamos, não sei se nos voltaremos a cruzar. Mas por momentos fomos as pessoas certas no momento certo. Vidas cruzadas por acaso… ou talvez não.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Pessoas Luz




Somos mais do que somos. Somos as sementes que plantamos nos outros e ou outros em nós. Somos também as recordações que perduram no tempo para além da nossa própria vida. Somos sentimentos e acima de tudo emoções.

A vida é efémera mas simultaneamente transcende a própria pessoa pela forma como interage com os outros. Não somos ilhas. Relacionamo-nos que com as pessoas que nos rodeiam nas mais variadas situações. Com algumas superficialmente, com outras crescendo mutuamente com trocas de afetos e saberes.

E por vezes a nossa vida é abençoada por pessoas tão especiais que nos tornam mais felizes só porque tivemos a chance de as conhecer. Pessoas que nos deixam o coração cheio só por pensarmos nelas, que recordaremos com a maior ternura até ao fim dos nossos dias.

E quando elas partem, agradecemos a luz que trouxeram às nossas vidas. Agradecemos os momentos que partilhamos e nunca iremos esquecer. Despedimo-nos com gratidão.

Obrigada! Até um dia  💕

sexta-feira, 9 de março de 2018

Anciã

Disse a anciã curandeira da alma:
Não doem as costas, doem as cargas. 
Não doem os olhos, dói a injustiça.
Não dói a cabeça, doem os pensamentos. 
Não dói a garganta, dói o que não se expressa ou se exprime com raiva.
Não dói o estômago, dói o que a alma não digere. 
Não dói o fígado, dói a raiva contida. 
Não dói o coração, dói o amor. 
E é precisamente ele, o amor mesmo, quem contém o mais poderoso remédio.

(Hermana Águila – Ada Luz Márquez)