Por vezes somos apanhados pelas tempestades da
vida. Somos sacudidos. Somos abanados. Ferimos-nos. E há feridas que cicatrizam
outras ficam uma eterna chaga que se recusa a curar.
Para essas somos obrigados a desenvolver cuidados paliativos diários. Aceitar que não vai passar e que o melhor é aprendermos a
viver com a dor. E acreditem conseguimos faze-lo. Podemos sempre ir mais além,
somos sempre um pouco mais fortes do que sabíamos. Mesmo nos dias em que agradecíamos
se a providência divina acabasse com tudo e nos desse uma trégua. E até
naqueles em que pensamos que se isso não acontecer podemos nós faze-lo, mas por
um qualquer motivo nos vamos agarrando à vida.
Há dias difíceis. Dias cinzentos. Dias que o
cansaço parece dominar a vida. Há dias em que andar para a frente requer um
esforço hercúleo.
Há dias em que precisamos conversar connosco próprios
e lembrar o quanto já superamos, o quanto somos fortes, o quanto merecemos dias
de sol. Aprende-se a cuidar de nós, a olhar-nos com um pouco de carinho.
E não adianta esperar que que as pessoas que nos
rodeiam façam esse percurso. Há coisas que são só nossas. E muitas vezes nem se
apercebem da dimensão do abismo em que se vive, nem de pormenores que são
verdadeiras tacadas nas feridas.
O percurso é nosso. Esse caminho, só nós podemos
trilhar. O esforço depende apenas de vontade própria. Cabe a nós diariamente
deixar a tristeza para depois, por um sorriso nos lábios e abraçar a vida tal como ela é.
“Por vezes chove e faz vento. Acreditas,
nessas alturas, que os alicerces que fundam a tua personalidade se abalam e
tremem. Quando, na verdade, eles desabam totalmente. Não deves punir-te por
isso. Simplesmente acreditar que tens que ir a uma loja comprar novos tijolos e
mais cimento. E voltar a construir as bases da tua futura casa.” (Rodrigo
Ferrão, escritor)