terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Pormenores de amor


Outro dia desloquei-me a uma unidade de educação onde trabalhou uma senhora que têm já 60 anos. Para proteger a sua identidade vou chamar-lhe Maria.

 A Maria, senhora idónea, com uma vida estável, e uma reputação impecável de repente deixou de trabalhar na unidade de educação, deixando todos surpreendidos com a sua decisão. Eu pessoalmente já me tinha questionado sobre o que teria acontecido à D. Maria e até receava pela sua saúde, mas só recentemente conheci a sua estória:

Disseram-me “A Maria apaixonou-se, e mudou de vida!”

Por manobras do destino encontro o seu primeiro namorado numa ida a um Centro Comercial. Entre a surpresa do reencontro e a vontade de saber o que a vida lhes reservara nos anos em que estiveram afastados, foram trocando contatos.

João, que nunca superou a perda de Maria que aos 20 anos decidira casar com outro, viveu várias relações superficiais mas nunca constituiu família, e acabou por emigrar para a Suécia.

 Por sua vez o marido de Maria sempre a tratou com muito respeito, mas que considerava que os pequenos pormenores que alimentam uma relação eram mariquices desnecessárias. Tinham uma vida estável, um filho já adulto que entretanto casara e saíra de casa deixando aos pais a difícil tarefa de preencher o vazio da sua ausência.

Agora que reencontrara Maria, João foi aparecendo acompanhado dos miminhos que se vira privado de oferecer à sua amada durante anos. Um dia levava-lhe uma flor, noutro um chocolate, noutro um poema, e não se esquecia de lhe dizer o quanto ela era linda mesmo no seu corpo já castigado pela idade.

Maria, no vazio da sua vida certinha e acomodada, sentiu-se primeiro surpreendida, depois envolvida e acabou apaixonada. Aos 60 anos deixou o marido, escreveu ao filho abrindo o coração acompanhou João para a Suécia determinada a viver o amor que o destino lhe pôs pela segunda vez no caminho. Ao que parece está feliz como nunca a viram nos largos anos em que a conheceram.

A Eugénia que relatou a sorte da Maria, afirmava convictamente que homens como o João que sabem olhar para os pormenores há poucos. Dizia que uma flor, só a recebia nos anos, e chocolates então arrancavam invariavelmente do companheiro o comentário “lá estás a investir para manter o corpinho gordo”. Senti-lhe na voz emocionada uma certa inveja por não estar a viver uma história de amor como a Maria.

Hoje lembrei-me da Maria, talvez por ter estado a conversar com uma amiga sobre a importância dos pormenores numa relação. Ambas concordamos que no dia-a-dia, são as pequenas coisas que fazem a diferença. Uma atenção inesperada, uma música dedicada, um telefonema só para lembrar o quanto o outro é importante. E pelo oposto, é a ausência desses pormenores que tira à relação a qualidade e entrega emocional entre os pares.

De facto, há uma enorme diferença entre dizer a alguém que se ama e demonstrar isso, fazer a outra pessoa sentir-se querida, amada, desejada...

Vale a pena pensar nisso!

1 comentário:

  1. bela história. Por acaso, conheço outra história comovente de um casal amigo em que também houve um reencontro - vinte anos depois - e, adivinha, estão muito felizes agora! As voltas que a vida (ou amor?) dá!...

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