Hoje em conversa com uma amiga ela contava-me que tinha perdido
a totalidade de um trabalho que tinha demorado imenso tempo a fazer e que teve
que refazer tudo de novo. Também me disse que se “arrepelou toda” durante uns momentos mas que depois pensou que tragédias
são as coisas como as que aconteceram à Júdite Sousa com a morte inesperada do
filho. E assim, pôs-se novamente a trabalhar e a 2ª versão até ficou melhor.
Foi uma conversa simples, mas que de alguma forma me deixou a pensar na vida.
Ao longo da minha vida eu própria já desci ao inferno algumas vezes,
já vivi tragédias, já perdi pessoas muito preciosas para mim. Mas, apesar de toda
a dor, de todo o sofrimento, foi um privilégio ter tido oportunidade de as
conhecer, de terem partilhado as suas vidas comigo e de terem deixado em mim
partes de si que ainda hoje carrego.
E enquanto conduzia com o automático mental ligado dei por mim a
pensar que me sentia feliz numa demonstração de paz e serenidade que há muito
tempo não sentia. Aquela coisa que sentimos dentro de nós, tão nossa…
Não me aconteceu nenhum milagre, os problemas não se evaporaram,
o trabalho não melhorou (pelo contrario o dia hoje começou muito mal), na vida
pessoal não aconteceu nada de especial e até faltaram elementos importantes, e
as finanças continuam a desgraça habitual a condizer com a crise.
Mas no meio deste cenário
dei por mim a pensar na sorte que tenho, e em todas as coisas boas que fazem a
minha vida valer a pena. Sabem aquela sensação de termos o coração tão cheio
que até nos momentos de solidão nos sentimos acompanhados e abençoados? Para
mim são momentos raros, mas sem dúvida que quase mágicos.
E num atropelo de sentimentos fui-me lembrando do Pensamento de
um dos meus autores preferidos, o Carlos Drummond de Andrade:
"A cada dia que
vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que,
esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.”
Talvez tenha sido somente um momento, mas a vida é feita de
momentos. E este foi na mais plena simplicidade um momento de felicidade
intenso e um ataque de otimismo raro que vou registar para reler nos dias em
que andar em baixo.
E vocês… Vejam as coisas boas que têm, sejam felizes!
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