Estavam milhares de pessoas no local, tudo a procurar um local
onde conseguissem ver o grande artista da noite. A luz já estava meio ténue
começando a ser visíveis as primeiras estrelas no céu.
De repente uma senhora pergunta-me “És a Regina?” Espanto,
surpresa, e um esforço gigante para reconhecer a pessoa que me abordava, mas
sem sucesso. Acabo por responder “Sim sou, mas desculpe não estou a
reconhece-la”.
“Sou a Susana do lar”. Mais espanto! Mais surpresa! Passaram-se
18 anos desde a ultima vez que nos vimos. “A Susana da secretaria?”
pergunto. “ Sim, eu mesmo, mas já lá não
estou… aquela gerência…” E não foi preciso dizer mais. Vi-me num enorme
flashback onde recordei os poucos meses onde trabalhei num lar de idosos, das
atividades que promovi, das iniciativas que tomei, as exposições que realizei, das
tardes de dança e dos passeios pelo parque… e do quanto a Susana me apoiou para levar aquele
grupo de pessoas que estavam há meses, talvez anos, fechados naquele espaço, num passeio a Fátima com direito a pic-nic e
tudo.
Lembrei-me também da forma como saí desse lar, uma discussão
acalorada com a gerência porque não concordava com a forma como as pessoas eram
tratadas. Fui despedida. Na altura fiquei sem trabalho e sem rendimentos, mas
não abdiquei das minhas convicções e daquilo em que acreditava.
Mas parece que o pouco tempo que por ali passei deixou a sua
marca, suficientemente forte para me reconhecerem tantos anos depois num local
inusitado.
Talvez valha mesmo a pena lutarmos pelas coisas em que
acreditamos e por vezes pequenos nadas fazem a diferença. Obrigado Susana
por me fazeres recordar isso.
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