Há um tempo uma grande senhora da política portuguesa
disse-me "Nesta vida, tudo é política, até a forma como se nasce e
como se morre. Ninguém diga que não gosta de política porque em toda a sua vida
as decisões que enfrentar serão moldadas pelas leis que nasceram da política.”
Ontem foi aprovada a despenalização da Eutanásia em
Portugal. Depois da despenalização do aborto, que maior confirmação pode haver
de que esta senhora está certa?!
A vida e a morte são inevitáveis para todos nós. Mas a
liberdade de escolha sobre o fim é algo que muda para sempre no nosso
país.
Não podemos fugir da morte. Inevitavelmente em algum
lugar, em algum momento temos que a enfrentar. Agora podemos também escolhe-la
em situações extremas em que a vida deixe de fazer sentido, podendo ter alguém
ao lado para nos ajudar nesse momento final.
Na minha vida já enfrentei a morte mais vezes do que
gostaria. Perdi pessoas que sofreram horrores com doenças prolongadas e cuja
vida se tornou tão dolorosa que até a morte se apresentava como uma grande
amiga. Vidas perdidas antes de o serem. Vidas que me obrigaram a confrontar
coma a impotência da minha própria existência… Não morreram por eutanásia, mas
teriam sido candidatos a esta situação se as leis da altura o tivessem
permitido.
Mas hoje não posso deixar de refletir sobre outras
vidas sem cor e sentido, que se limitam a ser meros fôlegos à espera do momento
final. Pessoas sem graves problemas de saúde, mas que quase deixam de existir,
numa espécie de limbo entre a presença e ausência.
Hoje foi dada uma oportunidade de escolha às pessoas,
mas que nunca seja a escolha da morte a consequência de falta de condições que
promovam o bem-estar e o conforto. Que a escolha do adeus não seja condicionada
por falhas nas respostas a quem sofre física e mentalmente. Que a decisão do
fim nunca nasça por conveniências dum sistema coxo.
Porque a eutanásia só é uma verdadeira opção se as
políticas que apoiam a morte forem acompanhadas pelas políticas que apoiam a
vida.
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